sábado, 7 de novembro de 2020

Destinatário: ao fantasma mais próximo

Bem... Olá, você! Você que me deixa em estado de louca. Você que como um fantasma aparece e some, sem que eu consiga tocar ou ouvi-lo, você simplesmente some. E eu? Bem, eu fico como louca, como a ver coisas que não existem. Dessa vez, a angústia – ou a loucura – durou pouco. Você apareceu e sumiu. Nada novo sob o sol. Mas dessa vez o eclipse durante o dia, raro, surgiu e não teve nada a ver com você, foi um fenômeno em mim. Depois do seu contato e posterior sumiço eu gargalhei, pois tão patético me pareceu, tão infantil foi sua ação, que não me restou outra coisa a não ser sorrir. Você se acha inalcançável e irresistível, porém, seu efeito conhecido me tornou tolerante à sua substância, seriam precisas duas doses de você para chegar ao efeito que você ainda acha que tem sobre mim. Como boa profissional da saúde aprendi que a comunicação falha tem grandes implicações sobre o outro, podendo lhe custar a vida. A gente nunca se comunicou de forma satisfatória e isso quase custou a minha. Então, comunico que se ainda for resolver aparecer, exponha sua mensagem completa, pois não seguirei esse caminho batido que é dialogar com o vazio.

Att., 

Quem resolveu (não sem recaídas) te esquecer.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

objetos perdidos no vendaval

Mais um fim de noite sem você. Pra uns, já passou tanto tempo que já era pra ter dado tempo de te esquecer. Mas eu não esqueço. Eu te amo, mas te esquecer, não, isso não é pra mim. Eu só sei ir, não sei voltar. Fui ao teu encontro e apaguei as pistas que me trariam de volta. Segurei tua mão e esqueci como é não ter onde segurar. Por isso vivo caindo, procurando no vazio tua mão que hoje faz tanta falta. Hoje não estou na mesma cidade que compartilhamos naquele tempo, nem você está lá, mas as ações me denunciam e te procuram em espaços impossíveis. Na mesa do bar, conto a nossa história pela milionésima vez, como quem foi abandonada há pouco. Mas é isso mesmo, sem exagero, o teu abandono é diário, como quem não se cansa de maltratar. Queria dormir ao teu lado, em paz, como quem não sabia que iria viver o pior dos furações logo em seguida. Perdi minhas estruturas com o vento forte. Ainda hoje procuro objetos perdidos no vendaval. Com a tua partida, tempestuosa, me despedacei e vivo numa eterna procura de mim.