Queria achar um
jeito de demonstrar, de dizer e até de desenhar tudo
o que transborda e tudo que se esconde aqui dentro. Nesse amor que não é meu,
nem teu. Que não é propriedade, mas que por acaso resolveu morar na gente. Sabe
o que eu queria mesmo? Era poder te guardar sem te prender. Poder ser local de
espera, mas te acompanhar por onde for. Poder ser a preguiça do acordar dos
teus domingos. Queria ser o tipo de coisa essencial, mas que sem problema viver
sem. Porque te preciso dependente, mas necessito ver teu voo! Eu quero poder te
escrever, sem ter que reler, sem ter que redizer, sem ter que consertar, mas
tudo ter uma explicação – só nossa. Gritar sem explicar o motivo do meu grito,
mas que você sabe, obviamente foi um escândalo de amor. Um grito pra te tirar
do lugar, ou te fazer ficar. Talvez quisesse passar um tempo integral em teus
pensamentos por alguns dias, uma temporada, talvez, e quando tu olhasse pro céu
à procura de algo que falta, mas não tem forma, desse de cara com a constelação
mais próxima e entendesse que é da gente que você precisa. Eu queria poder te
dar o poder que precisa pra realizar todos os seus projetos de vida. Te ajudar
a construir o que fosse, uma casinha na árvore ou o caráter. Queria poder
preencher tua vida, com sentimentos leves ou com lasanha de frango. Queria que
teu coração virasse gente, pra gente conversar e eu dizer que agradeço
imensamente o bem que já me fez. Queria poder acabar com os teus sofrimentos e
determinar que de agora em diante só fica perto de ti o que for feito de
felicidade e mansidão. Porque teu amor é pra mim a mansidão que eu
precisava.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
O contrário da lembrança
Esse sorriso já foi tudo o que
eu mais precisei em noites como essa. Noites em que a dor vem conformada, como
quem sabe que um dia vai embora de vez. Esse é o meu medo. De chegar o dia em
que eu vou olhar uma foto tua e em nada me abalar. O dia em que eu vou sentir
teu perfume por aí e vou senti-lo como se fosse a primeira vez, talvez até
goste dele novamente, mas não vou saber o motivo. O dia em que escutar teu nome
vestindo desconhecidos não me causará apreensão alguma. O dia em que vamos
passar um pelo outro e nada vai acontecer, nem aqui dentro nem aí. O dia em que
para lembrar de ti, precisarei estar relendo aquelas velhas agendas em que eu
descarregava toda a dor que não era capaz de carregar sozinha. Com o tempo não
vai doer mais, e talvez eu sinta saudade da dor que só não se fazia
insuportável, por que precisava te manter vivo e, de certa forma, à mim também.
Doeu te ter. Foi quase insuportável te perder. E é indescritível a dor do
esquecimento.
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