sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Desencontro encontrado

Sentei no chão encostada numa coluna. Estiquei e cruzei as pernas. Ele chegou, olhou, sentou encostado na coluna à minha frente e, talvez sem perceber, fez uma pose espelho da minha, esticou e cruzou as pernas e assim ficamos.

Cansei da posição, virei e sentei.

Ele também cansou, virou e sentou.

Houve uma cumplicidade numa piada final.

Houve um sorriso.

E nunca mais se viram.

Que eu não

Que eu não me deixe ir por outros rumos que não seja o da felicidade. 
Que eu não deixe a verdade de outrem vir a ser minha. 
Que eu crie minhas próprias verdades. 
Ou talvez nem precise de uma. 
Que eu não perca a sensibilidade para admirar as estrelas. 
Ou o brilho dos olhos. 
E que eu sempre me encante com noite sem lua. 
Que eu não deixe de ver histórias magníficas nos olhares que esbarram no meu. 
Por que olhos são mundos infinitos e cheios de coisas a contar. 
Que vez ou outra eu pare pra ouvir e não apenas escutar o que esses olhos têm a falar e, por vezes, gritar. 
Que eu não deixe de dar valor a um abraço apertado de um amigo querido. 
E que eu ainda aperte muitos corpos amigos. 
Que eu sempre dê uma importância exagerada a tudo. 
Mesmo que o tudo venha, um dia, a ser nada. 
Pois acreditar, talvez, já basta. 
Que eu não fique de um jeito chato, presa ao relógio e apressando o passo. 
Sem apreciar as pequenas felicidades da vida. 
Contando os segundos pra parar o mundo, porque eu preciso de descanso. 
Preciso de mais tempo para ver a vida. 
Para ler um livro. Para terminar esse viver interminável.

Quando decidi decidir

Quando decidi deixar de te querer como te queria, foi uma situação nova, não doeu nem deixou de doer. Outras vezes na vida eu havia decidido deixar de querer alguém também, mas sempre era como perder uma mão, no início doía muito e, depois vinha a dificuldade da reabilitação àquela situação desconhecida. Mas dessa vez não, aceitei o que eu não posso mudar, o que não adianta forçar.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Eu nunca disse que queria ficar

Eu nunca disse que queria ficar. Você também não.
Mas achei que queríamos.
Sabia disso pelo toque do seu olhar penetrando o meu com tanta intensidade. Tinha muito sentimento transpirando ali, juntinho de nós.
Mas as coisas não são tão simples. A vida não é.
Simples mesmo, foi me apaixonar por você. E a coisa toda aconteceu em um olhar. É... aquela história que sentimentos fortes podem nascer num primeiro encontro é verdade. Força foi o que não faltou.
E o engraçado é que eu nunca quis muita coisa. Aliás, nunca cheguei a pedir nada. Talvez tenha faltado isso, demonstrar minha preocupação com a continuação daquilo tudo. Quer dizer, não faltou nada nem continuação. Nós éramos aquilo e só poderíamos ser aquilo.
E não poderíamos ser nada além no tempo que foi.
Você foi muita coisa. E agora é uma lembrança importante, que sempre retorna pra me falar coisas bonitas sobre não ir pra longe de quem a gente gosta e deixar ir quem não gosta mais da gente.
Você foi uma despreocupação que eu queria levar pra minha vida. E que sem saber continua aqui. A despreocupação foi uma das coisas que permaneceram. Diferente dos nós-eu-mais-você em minhas frases felizes.
É isso. Você simplesmente foi.
E indiretamente ainda é.
Alguém que foi embora.
Alguém que eu deixei ir.
Um amor.
Um abraço quente.
Um humor que encaixa.
E um sorriso leve pra fazer feliz quem por ele passa.

Céus dos amores

E cada vez que a lua retorna, ela me lembra que tudo se vai, assim como a noite estrelada que ela deixou pra trás. Céu com lua representa noite triste, uma lua sozinha no céu e um alguém sozinho em alguma janela por aí, projetando na lua todo o amor que gostaria de dividir, todo o amor guardado que acaba transbordando por mau uso ou uso nenhum. Um amor triste que nunca é gasto pra ser reposto, é uma espécie de início e término em si próprio. E isso maltrata. Amor nem sempre é felicidade. Ele depende muito de como se usa e com quem se gasta. Porque aí quanto mais a gente gasta, mais a gente gosta. Ou descobre o deixar de gostar. Mas o término do amor gastado não é tão triste assim, as coisas precisam de reciprocidade para alcançar o equilíbrio. Não é o que dizem? Tudo demais faz mal? E o amor que nunca sai? Nem pra dar um passeio e respirar um ar fresco? Por isso eu repito: amar não necessariamente implica em estar feliz. Mas e se não é feliz não é pra ser amor. Então, o que é? Talvez seja assim mesmo, tudo tem seus dois lados, até o amor. E o amor triste é tão bonito, sou uma espécie de melancólica quando se trata disso. Se sofro por amor, a próxima vez sempre é mais intensa, mais bonita. Gosto da inspiração que se eu já não tivesse sofrido desse mal que nos atinge, não chegaria até mim. Gosto da literatura e seus casais que nunca ficam juntos no final. Gosto dessa saudade de um futuro que não foi. No fim, eu gosto é dos suspiros. E como penso demais, é sempre bom ter algo pra ocupar a mente numa fila longa. Ou pra dar algumas risadas de vez em quando das lembranças guardadas de dias felizes. Voltando pro infinito que é um céu noturno, uma noite com estrelas é a que me arranca suspiros, tantas possibilidades num céu onde tudo parece ser tão livre, ninguém se ausenta, tem lugar pra todo mundo, menos pra lua, aquela egoísta. O céu estrelado também pode ser de amor, mas é o céu do amor real, eu diria. Do amor possível. Do amor feliz. Do amor que não deu certo, mas tudo bem, mais na frente esbarro com outra estrela pra enfeitar minha noite.

domingo, 23 de novembro de 2014

Estrelas confidentes

E eu fico a olhar o céu estrelado, como se ele fosse me trazer as respostas dos por quês que eu não soube responder. Como se ele fosse me contar como anda tua vida, me mostrar o quanto você está feliz e que seguiu como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse existido. Me alegra a ideia de te imaginar feliz, de bem com a vida, me dá até vontade de prosseguir, de tentar evoluir, de tentar te afastar de mim. Mas como eu nunca me desapego rápido, tenho recaídas e uma curiosidade louca sobre tua vida e tudo que te cerca. Porque eu, definitivamente, não esqueço fácil. Mas tudo nessa vida tem um fim, e a cada levantar, a cada passo me convenço do quanto aquele ditado é verdade, que de grão em grão a galinha enche o papo, e por mais dolorido que seja afirmar que a cada dia um detalhe seu vai se perdendo, que a lembrança constante vai perdendo sua pontualidade, eu sobrevivi. Quem sabe a gente ainda se encontre por aí, e talvez reconheçamos o quão imaturos éramos, ou quem sabe apenas olharemos para trás com uma saudade conformada. E a mágoa já terá passado e assumiremos que sim, fizemos falta um ao outro, mas como quase tudo é substituível, seguimos adiante e o mais importante de tudo, muito felizes. O bom em relembrar histórias como a nossa, é perceber que a vida é composta de pequenas ironias e que assim como existem milhões de estrelas numa noite sem lua como essa, existem milhões de caminhos possíveis a percorrer, basta escolher. E quem sabe, um dia, essas estrelas me contem em confidência a razão dos encontros e desencontros da vida.