p.s.: escrevo para organizar a
dor.
E se eu contar para as estrelas?
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
cada nova perda presentifica as perdas passadas
domingo, 17 de outubro de 2021
já aprendeu a gostar de carnaval?
Ainda me pego esperando cruzar com você na rua ou na vida. Busco tua presença naquele bar que a gente gostava de ir. Observo trejeitos em outros que são clara e totalmente seus. Quando me dou conta, sorrio, observando que a procura já se tornou parte de mim, geralmente nem percebo mais que desejo tua presença. Tenho sentido um sabor diferente pela vida, apesar de sem perceber estar há anos te esperando, todo o resto da minha vida mudou, o sabor agora é doce, como aquele meu chocolate preferido, sim, o com amendoim. E eu tenho aproveitado. Então, aprendi que a vida não é só tristeza, mas sei que mergulhar na tristeza foi uma parte importante dela. O luto é isso, né, sentir e sentir e sentir, não tem fim, ninguém sabe se e quando acaba, a gente passa a vida processando, experimentando, ampliando o próprio mundo, mas tem dia que a gente cai e se apega a qualquer lembrança daquele que se foi contra a nossa vontade. Mesmo por acaso existindo uma vida depois desta ou reencontros com aqueles que perdemos simbolicamente, parte da perda fica eternizada no corpo. Sendo assim, sempre vou precisar de um momento recluso com a nossa história. Amanhã poderá ser divertido, ano que vem tem carnaval, mas hoje eu me banhei de ti. E como a internet gosta de dizer: é sobre isso e tá tudo bem.
P.S.: já aprendeu a gostar de carnaval?
segunda-feira, 5 de abril de 2021
23:23 tem alguém pensando em você: sou eu
Engraçado como sinto uma necessidade de registrar meu mundo. Hoje um amigo brincou com uma postagem numa rede social em que mostro o conteúdo do meu estojo de canetas me pedindo uma emprestada “você sempre cheia das canetas... me empresta uma”, ele disse, sorri com o afago que emergiu com a lembrança desse amigo que durante todo o ensino médio pegou várias emprestadas - as devolvendo na maioria das vezes. Época simples e boa, de grandes dramas e enormes afetos por quem caminhava do meu lado. Tipo esse amigo aí. Outro comentário foi de uma pessoa querida em um momento em que percebo que volto a sorrir em fotos ele, que foi meu primeiro namorado, comenta que meu sorriso continua sendo o mais lindo. Que sorte a minha ter tido você. O que tivemos amorteceu um pouco os vários tombos que tive depois da gente. O seu sorriso também é lindo, eu não disse, mas só para registro afetuoso da reciprocidade que senti antes e ainda sinto por você. Valeu muito a pena ter tido você como amigo e amor, por nossa cumplicidade, pelos dias de sorrisos, pela companhia e consideração. Sou uma pessoa carente de companhia e você sabia me saciar sem que eu pedisse. A música era um cenário que nos fortalecia, apesar de eu não saber cantar. Quantas horas passadas juntos, quanta vida compartilhada. Eu me sentia conectada, sabe? Você me ouvia e se importava. Lembra aquele drama quando nossa relação complicou com meus pais? A gente chorou e se amou na despedida – fecho os olhos e abro um sorriso lembrando a cena. E quando me vi te perdendo, te chamei de volta e você não recuou. Ainda hoje penso nesse nosso retorno quando tento definir amor, alguém que eu possa chamar e escutará, alguém que estará comigo. Com 15 anos o Amor pra mim era companhia e continua sendo. Queria registrar isso pra não esquecer a sensação de já ter sido amada um dia. Gratidão por você ter sido, durante um tempo, o meu amor.
sábado, 7 de novembro de 2020
Destinatário: ao fantasma mais próximo
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
objetos perdidos no vendaval
Mais um fim de noite sem você. Pra uns, já passou tanto tempo que já era pra ter dado tempo de te esquecer. Mas eu não esqueço. Eu te amo, mas te esquecer, não, isso não é pra mim. Eu só sei ir, não sei voltar. Fui ao teu encontro e apaguei as pistas que me trariam de volta. Segurei tua mão e esqueci como é não ter onde segurar. Por isso vivo caindo, procurando no vazio tua mão que hoje faz tanta falta. Hoje não estou na mesma cidade que compartilhamos naquele tempo, nem você está lá, mas as ações me denunciam e te procuram em espaços impossíveis. Na mesa do bar, conto a nossa história pela milionésima vez, como quem foi abandonada há pouco. Mas é isso mesmo, sem exagero, o teu abandono é diário, como quem não se cansa de maltratar. Queria dormir ao teu lado, em paz, como quem não sabia que iria viver o pior dos furações logo em seguida. Perdi minhas estruturas com o vento forte. Ainda hoje procuro objetos perdidos no vendaval. Com a tua partida, tempestuosa, me despedacei e vivo numa eterna procura de mim.
sábado, 26 de setembro de 2020
monotemática
domingo, 20 de setembro de 2020
“o que é selvagem é muito precioso”
Queria viver a intensidade da dedicação que necessita uma grande obra. Me aprofundar em algo. Mergulhar nas profundezas. Entrar em contato com o divino ou com o que nos torna existência, com o que nos faz ser pesados em cima da Terra. Queria a preciosidade de viver quinhentos dias ou uma vida por uma causa, um projeto, escrever um livro durante anos, ler a obra completa de um escritor... Queria me sentir presente e focada, mas não me sinto assim. Quero, tento e prometo abraçar o mundo, mas não dou conta, é impossível pois sou apenas uma. Ainda bem, já pensou ser mais de uma e duplicar minha necessidade de agradar ao mundo? Ou de tentar me agradar com o mundo? Queria ser misteriosa, interessante e privada, mas me sinto transparente, comum e pública.